quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Quase sem querer


 

"Quero que saibas que me lembro,
Queria até que pudesses me ver.
És parte ainda do que me faz forte.
E, pra ser honesto,
Só um pouquinho infeliz"
Legião Urbana - Giz

Deixei muitas pegadas na areia por onde andei. De algumas eu mal lembro, como se tivesse vivido um momento ébrio de alucinação e vertigem. Descompasso, cansaço e desespero.
Alguns passos foram firmes e concretos; uma forma de pé saudável na areia macia, outros foram levianos, dolorosos, desprendidos. Mal deixando marca alguma. Desapaixonados e tristes. No intervalo entre caminhar, o correr e os fundos sulcos na areia que deixei quando fiquei parado. Achei que, mesmo eu, tão pouco sublime, havia te encontrado. E você era mais real que a idéia que eu fazia de você e mais interessante do que o estupor romântico das folhas amarelas caindo sobre o tapete laranja em um jardim distante, numa tarde eterna e agradável.
Se exercito o meu passado e olho para trás não vejo muito... Penso que alguma água do mar da vida que corre ali perto, a margem de mim, veio e levou com ele alguma das minhas memórias. Não sinto nada e não vejo, também, a vida que sonho que vivi com você. Não sei o princípio e perdi o sentido de tudo o que penso que tenha passado. Vejo apenas as marca-pegadas de ocasionais momentos que perdi vivendo a não importância vazia de não tê-los vivido em sua direção... Você se foi, como (ou com, não sei) uma onda que arrebenta na areia e apaga a si mesma no instante seguinte, levando consigo todas as palavras e mergulhando o mundo no esquecimento do não saber. Me sinto miserável hoje, por sentir que você esteve aqui, mas foi-se... e eu já não tenho certeza disso, também. Não sei se você foi ou se eu te imaginei sendo.

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